11 de set. de 2011
FALÁCIAS, FALÁCIAS, FALÁCIAS
11 de set. de 2011
.
Jamais estou onde procuro
E sim na forma abstrata
Que é este porto inseguro
Da tibiez que me retrata.
.
Pois vejo em mim um esqueleto
Que nada sabe mas possui
Em seu perfil obsoleto
Todas as coisas que não fui.
.
Assim declaro e nestes termos
Pela razão que ainda existe
Em detrimento aos dias ermos
Um homem tolo que resiste.
.
FTO
A TRANSIGÊNCIA DO VAZIO
.
...e na palidez do meu retrato
Percebo algo e sempre noto,
A semelhança de algum fato
Que registrei junto com a foto.
.
É algo estranho, faz-me falta,
E não é falta simplesmente,
Mas qualquer coisa que ressalta
Do que a foto pôs na gente.
.
Pro beco escuro, a noite é luz,
E quem enxerga não vê nada;
Vê pensamentos que eu não pus
De quando a foto foi tirada
.
FTO
BARRAGEM
.
Na aurora densa e fria
O lago inerte e denso
Carrega, exprime ou copia
O nada vago que penso.
.
Pois minha mente é um lago
Um lago razo e confuso
Que nada exprime, é o vago
Do lamaçal que eu cruzo.
.
Na aurora fria a fronde
De um nevoeiro espesso
Ao lago inteiro esconde
E eu do sei me esqueço.
.
FTO
10 de set. de 2011
DANÇA DO VENTRE
10 de set. de 2011
.
As mãos se perdem na curva
Da silhueta inconstante
Que a luz opaca e turva
De um nada faz resultante.
.
E o corpo arqueado e leve
Balbucia quieto, traduz
Insinua, mostra e descreve
O quanto dele é a luz.
.
E assim é que ela alcança
O algo além de esposa
Pois não é corpo, nem dança
E sequer é nada ou coisa.
.
FTO
As mãos se perdem na curva
Da silhueta inconstante
Que a luz opaca e turva
De um nada faz resultante.
.
E o corpo arqueado e leve
Balbucia quieto, traduz
Insinua, mostra e descreve
O quanto dele é a luz.
.
E assim é que ela alcança
O algo além de esposa
Pois não é corpo, nem dança
E sequer é nada ou coisa.
.
FTO
REFÚGIO
.
Vou refazer-me de um ponto
De uma virgula adjacebte
Que é a tese em confronto
De eu em mim sentir-me gente.
.
Vou seguir meu cadafalso
Que se estreita no caminho
E se perde no encalço
De eu em mim estar sozinho
.
Vou seguir... não vou seguir
Já não sei ou quero crer
Que eu em mim só posso ir
Quando enfim eu me perder.
.
FTO
Vou refazer-me de um ponto
De uma virgula adjacebte
Que é a tese em confronto
De eu em mim sentir-me gente.
.
Vou seguir meu cadafalso
Que se estreita no caminho
E se perde no encalço
De eu em mim estar sozinho
.
Vou seguir... não vou seguir
Já não sei ou quero crer
Que eu em mim só posso ir
Quando enfim eu me perder.
.
FTO
11 de ago. de 2011
IMPASSE
11 de ago. de 2011
.
Meu corpo é vidro esculpido
É a mais singela fração
De um vitral colorido
Mesclando as cores do chão
.
É greta, é o pó e a fumaça
De uma poeira escarlate
Que se espalhou na vidraça
Bem onde o sol nunca bate.
.
É o mais intenso conflito
Que a escassez de anidro
Perfaz no vácuo infinito
Do corpo inerte de vidro.
.
FTO
POEMAS BANAIS
.
São as folhas frias do inverno,
Em galhos secos, nada mais,
Que escondi em um caderno
Entre poemas tão banais.
.
Foi na aurora amarga e fria
Entre torpores e segredos
Pois cada letra se escondia
Na frigidez entre meus dedos.
.
São folhas frias e pequenas
Em galhos secos e eu somente
As escondi, foi isso apenas
Não mão casada desta mente.
.
FTO
São as folhas frias do inverno,
Em galhos secos, nada mais,
Que escondi em um caderno
Entre poemas tão banais.
.
Foi na aurora amarga e fria
Entre torpores e segredos
Pois cada letra se escondia
Na frigidez entre meus dedos.
.
São folhas frias e pequenas
Em galhos secos e eu somente
As escondi, foi isso apenas
Não mão casada desta mente.
.
FTO
11 de jun. de 2011
9 de jun. de 2011
SOLETRAR
9 de jun. de 2011
O vento entra na janela
E faz a tarde parecer
Que nada existe, apenas ela
E que vem dela o todo haver.
.
O vento canta e a voz rasgada
Pela janela soerguida
Parece mesmo não cantada;
Parece coisa esquecida.
.
E é desse canto sem cantar
Que pode a gente perceber
Que viu a tarde lamentar
O não ter visto o sol nascer.
.
FTO
E faz a tarde parecer
Que nada existe, apenas ela
E que vem dela o todo haver.
.
O vento canta e a voz rasgada
Pela janela soerguida
Parece mesmo não cantada;
Parece coisa esquecida.
.
E é desse canto sem cantar
Que pode a gente perceber
Que viu a tarde lamentar
O não ter visto o sol nascer.
.
FTO
1 de mai. de 2011
29 de abr. de 2011
EU SEMPRE VOU PRO FIM DA ILHA
29 de abr. de 2011
.
Eu sempre vou pro fim da ilha
Onde procuro explicação
Algum caminho, uma trilha
Ou pra fugir da hesitação.
.
Pois os remansos da maré
mantém a gente sempre preso
Nos faz pensar que a gente é
A contraparte de algum peso.
.
Eu sempre vou pra algum lugar
E nunca penso estar só
Pois toda ilha tem um mar
E tudo em nós é apenas pó.
.
Eu sempre vou pro fim da ilha
Onde procuro explicação
Algum caminho, uma trilha
Ou pra fugir da hesitação.
.
Pois os remansos da maré
mantém a gente sempre preso
Nos faz pensar que a gente é
A contraparte de algum peso.
.
Eu sempre vou pra algum lugar
E nunca penso estar só
Pois toda ilha tem um mar
E tudo em nós é apenas pó.
.
21 de abr. de 2011
16 de abr. de 2011
30 de mar. de 2011
28 de mar. de 2011
21 de mar. de 2011
DESDE QOSQO HASTA HUARAZ
21 de mar. de 2011
I
.
...e refiz as malas novamente
Vou-me daqui não sei pra onde
Todo lugar é indiferente
E nada enfim me corresponde.
.
Parto daqui, não há saudade;
Chuva que cai em solo firme...
Levo de mim só a metade
Não sei se a outra vai seguir-me.
E já pressinto antes de ir
Em meu destino mundo afora,
Todo ficar é já partir...
Rumos traçados; vou embora.
.
II
.
Papeis rasgados pelo chão
Meu cobertor aveludado
A mão que treme, um violão
Nalgum lugar dependurado.
.
Frases perdidas num bilhete
Coisas escritas sem saber
Que serviriam de lembrete
Só pra um dia eu me esquecer.
.
O tempo ás vezes me engole
Me regurgita, me contrai
Todo passado é denso e mole
Nevoa cinzenta quando cai.
.
III
.
E eu contraceno inutilmente
Com a partida que farei
Pela vitrine transparente
Dos objetos que comprei.
.
Pois fatalmente eu me sinto
Como alguém que se vendeu
Pelo amargor suave e tinto
De alguma coisa que bebeu.
.
Então irei sem minhas malas
Porque não sei a que levar
Não sei que coisas vou guardá-las
Apenas sei: não vou voltar.
.
FTO
18 de mar. de 2011
17 de mar. de 2011
16 de mar. de 2011
15 de mar. de 2011
O CORPO DO DIA MOLHADO
.
As horas tingidas de brisa
No corpo molhado do dia
São como alguém que precisa
Reencontrar alegria.
.
Lembram um peso, um fardo
Nas aguas frias do marne,
Ou um cavaleiro hussardo
Com estilhaços na carne.
.
E, como as águas, se espalham
No leito frio e calado
Da brisa que fere e retalha
O corpo do dia molhado
.
FTO
As horas tingidas de brisa
No corpo molhado do dia
São como alguém que precisa
Reencontrar alegria.
.
Lembram um peso, um fardo
Nas aguas frias do marne,
Ou um cavaleiro hussardo
Com estilhaços na carne.
.
E, como as águas, se espalham
No leito frio e calado
Da brisa que fere e retalha
O corpo do dia molhado
.
FTO
8 de mar. de 2011
2 de mar. de 2011
RASCUNHO
2 de mar. de 2011
.
Minha poesia inacabada,
Que o tempo não rimou,
Nunca pode ser cantada,
Já não pode ser rimada,
E não pode ser quem sou.
.
Minha poesia sem papel,
Sem caneta nada enfim,
Foi a coisa mais fiel,
Uma estrela no meu céu,
Uma parte dele em mim.
.
Mas nada disso eu diria,
Se pudesse descrever,
Que em mim a poesia,
A si mesma se escrevia,
Eu precisei apenas ler.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
Minha poesia inacabada,
Que o tempo não rimou,
Nunca pode ser cantada,
Já não pode ser rimada,
E não pode ser quem sou.
.
Minha poesia sem papel,
Sem caneta nada enfim,
Foi a coisa mais fiel,
Uma estrela no meu céu,
Uma parte dele em mim.
.
Mas nada disso eu diria,
Se pudesse descrever,
Que em mim a poesia,
A si mesma se escrevia,
Eu precisei apenas ler.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
LIMÍTROFES
.
O espelho não reflete,
Aquilo que julgo ver,
Ele apenas se repete,
Noutro modo de me crer.
.
Em sua forma atenuada,
O que ele desconhece,
É que a imagem transformada,
Nunca é o que parece.
.
E o reflexo duplicado,
Mostra coisas que não sei,
Pois sou apenas projetado,
De uma idéia que criei.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
O espelho não reflete,
Aquilo que julgo ver,
Ele apenas se repete,
Noutro modo de me crer.
.
Em sua forma atenuada,
O que ele desconhece,
É que a imagem transformada,
Nunca é o que parece.
.
E o reflexo duplicado,
Mostra coisas que não sei,
Pois sou apenas projetado,
De uma idéia que criei.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
FINGIMENTO
.
E ele sonhava caravelas,
Com medo de ser navio,
Com suas águas amarelas,
Num imenso mar bravio.
.
Nunca quisera ser porto,
Pois o porto só abriga,
O cargueiro feio e morto,
E a caravela antiga.
.
E pensava tão distante,
Na sua inventada razão,
Como um fio de barbante,
Segurando a embarcação.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
E ele sonhava caravelas,
Com medo de ser navio,
Com suas águas amarelas,
Num imenso mar bravio.
.
Nunca quisera ser porto,
Pois o porto só abriga,
O cargueiro feio e morto,
E a caravela antiga.
.
E pensava tão distante,
Na sua inventada razão,
Como um fio de barbante,
Segurando a embarcação.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
EQUÍVOCO
.
Há num momento qualquer,
Qualquer coisa indefinida,
E que não passa sequer,
De uma coisa presumida.
.
E que não tem definição,
Além da possibilidade,
De não ser só presunção,
Mas a pretensa verdade.
.
E é assim que tudo vira,
Na imagem que se vende,
Ao fazer duma mentira,
A verdade que nos prende.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
Há num momento qualquer,
Qualquer coisa indefinida,
E que não passa sequer,
De uma coisa presumida.
.
E que não tem definição,
Além da possibilidade,
De não ser só presunção,
Mas a pretensa verdade.
.
E é assim que tudo vira,
Na imagem que se vende,
Ao fazer duma mentira,
A verdade que nos prende.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
SOFISMA
,
Há um traço obrigatório,
Uma curva que detém,
Meu desejo incorpóreo,
Minha vida de alguém.
.
A eterna inconstância,
Num sofisma rudimentar,
Que me prende à distância,
Onde penso não estar.
.
E ao nível não tangível,
Desta forma obsoleta,
O existir é tão possível,
Quanto a idéia na gaveta.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
Há um traço obrigatório,
Uma curva que detém,
Meu desejo incorpóreo,
Minha vida de alguém.
.
A eterna inconstância,
Num sofisma rudimentar,
Que me prende à distância,
Onde penso não estar.
.
E ao nível não tangível,
Desta forma obsoleta,
O existir é tão possível,
Quanto a idéia na gaveta.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
PAISAGEM
.
Não sei se chove lá fora
Respingos molham o centro
Da paisagem que decora
A chuva que cai-me dentro
.
Deita-me na relva, deita
Porque a água acalanta
A arritmia perfeita
Daquilo que ela planta
.
E que o dia se embebede
De tudo que lhe convém
Pois no coração rebelde
Ás vezes chove também
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
Não sei se chove lá fora
Respingos molham o centro
Da paisagem que decora
A chuva que cai-me dentro
.
Deita-me na relva, deita
Porque a água acalanta
A arritmia perfeita
Daquilo que ela planta
.
E que o dia se embebede
De tudo que lhe convém
Pois no coração rebelde
Ás vezes chove também
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
TORPE E BANAL
.
A poesia, em rumos diversos,
Escapa-se do entender,
Não é expressa em versos,
E não se a pode escrever.
.
Buscai somente o sentido,
Da forma alheia e discreta,
Do algo incompreendido,
Que se perdeu do poeta.
.
Mas se atrevido, entretanto,
Ainda a quiseres buscar,
Deixai o meu livro de canto,
Que assim a irás encontrar.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
A poesia, em rumos diversos,
Escapa-se do entender,
Não é expressa em versos,
E não se a pode escrever.
.
Buscai somente o sentido,
Da forma alheia e discreta,
Do algo incompreendido,
Que se perdeu do poeta.
.
Mas se atrevido, entretanto,
Ainda a quiseres buscar,
Deixai o meu livro de canto,
Que assim a irás encontrar.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
28 de fev. de 2011
POEMA DA RUA MORTA
28 de fev. de 2011
.
Do eremitário da esquina
Talvez se possa presumir
Que a rua toda ali termina
Porque cansou de resistir.
.
É tudo ermo, quieto e ermo
Como cantigas de embalo;
Que banha as faces do enfermo
E assim crê que vá salva-lo.
.
E é nesta mesma quietude
Que para a rua sobrevém
A mesma falta de sáude
Banhando as faces que ela tem.
.
FTO
Do eremitário da esquina
Talvez se possa presumir
Que a rua toda ali termina
Porque cansou de resistir.
.
É tudo ermo, quieto e ermo
Como cantigas de embalo;
Que banha as faces do enfermo
E assim crê que vá salva-lo.
.
E é nesta mesma quietude
Que para a rua sobrevém
A mesma falta de sáude
Banhando as faces que ela tem.
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FTO
MOCHILAS E MOCASSINS
.
Suave é a neve que nos banha
Nas travessias da manhã,
Nos picos altos da montanha,
Nos caracóis de linho e lã.
.
O sol não coube na mochila
Na velha mente ainda medra
A paz esparsa e tranquila
De cada ramo, galho e pedra
.
E é neste fim de cordilheira
Que o velho corpo encontra paz
A paz que faz da vida inteira
Transparecer-nos tão fugaz.
.
FTO
Suave é a neve que nos banha
Nas travessias da manhã,
Nos picos altos da montanha,
Nos caracóis de linho e lã.
.
O sol não coube na mochila
Na velha mente ainda medra
A paz esparsa e tranquila
De cada ramo, galho e pedra
.
E é neste fim de cordilheira
Que o velho corpo encontra paz
A paz que faz da vida inteira
Transparecer-nos tão fugaz.
.
FTO
26 de fev. de 2011
A MIM DISSERAM QUE CHOVEU
26 de fev. de 2011
.
A mim disseram que choveu
Não pude ver nem percebi,
Pois nuvens frias como eu
Criaram a chuva que não vi.
Porém não sei se choveriam,
Por ignorar como se dê,
E que estas nuvens deveriam
Chover somente a quem as vê.
Mas pode ser que nem me importe
Porque enfim não vou saber
Pois sou apenas um transporte
Só fiz-me nuvem pra chover.
.
FTO
A mim disseram que choveu
Não pude ver nem percebi,
Pois nuvens frias como eu
Criaram a chuva que não vi.
Porém não sei se choveriam,
Por ignorar como se dê,
E que estas nuvens deveriam
Chover somente a quem as vê.
Mas pode ser que nem me importe
Porque enfim não vou saber
Pois sou apenas um transporte
Só fiz-me nuvem pra chover.
.
FTO
BODAS DE CARNE
.
Manhã de pedras, devagar,
Manhã cinzenta, talismã,
Tu és o sol de meu lugar,
Serei lugar toda manhã.
.
Eu e você, na cruz do dia,
Você e eu na mesma dor
Que fez de nós escadaria
Nos descaminhos do amor.
.
Talvez um dia me aconteça
Deu resumir você em mim
Pra que o "nós" desapareça
E assim sejamos "um" enfim.
.
FTO
Manhã de pedras, devagar,
Manhã cinzenta, talismã,
Tu és o sol de meu lugar,
Serei lugar toda manhã.
.
Eu e você, na cruz do dia,
Você e eu na mesma dor
Que fez de nós escadaria
Nos descaminhos do amor.
.
Talvez um dia me aconteça
Deu resumir você em mim
Pra que o "nós" desapareça
E assim sejamos "um" enfim.
.
FTO
23 de fev. de 2011
RIBEIRINHO DAS VOLTAS (CURIAPEBA)
23 de fev. de 2011
.
O rio rumina e a vazante
Faz da corrente rompida
Um objeto cortante
Que tira a água da vida.
.
E num caudal que flameja
O veio grita e derrama
Na foz inundada e despeja
A viscosidade da lama.
.
E o ribeirão permanece
Ouvindo o rio dizer:
Palavra ouvida se esquece
Falar pra dentro é saber.
.
O rio rumina e a vazante
Faz da corrente rompida
Um objeto cortante
Que tira a água da vida.
.
E num caudal que flameja
O veio grita e derrama
Na foz inundada e despeja
A viscosidade da lama.
.
E o ribeirão permanece
Ouvindo o rio dizer:
Palavra ouvida se esquece
Falar pra dentro é saber.
.
FTO
O CHARCO DA CASA VELHA
.
É esta extensa repetição
É que me faz reformular
Das palavras que dirão
Quando alguém as perguntar.
.
O que sou e o que pareço?
O que fiz do meu espaço?
E porque eu não me esqueço,
De ser tudo que não faço?
.
Tantas peguntas devem ter
As respostas que objetem,
O que não posso é entender
Porque tanto se repetem.
.
É esta extensa repetição
É que me faz reformular
Das palavras que dirão
Quando alguém as perguntar.
.
O que sou e o que pareço?
O que fiz do meu espaço?
E porque eu não me esqueço,
De ser tudo que não faço?
.
Tantas peguntas devem ter
As respostas que objetem,
O que não posso é entender
Porque tanto se repetem.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
ITAOCA DE IMBIRA
.
Sorve o silencio, degusta
O resto parvo da dor,
Pois afinal não te custa
Fingir aquilo que for.
.
Sinta este nada observe-o
Pois ele mesmo levou-te
A rasgar a pele indelevel
Dos finos traços da noite.
.
Sinta o suor, o batuque,
E a agonia fremir,
Para que nada machuque
O sono que não quer vir.
.
Sorve o silencio, degusta
O resto parvo da dor,
Pois afinal não te custa
Fingir aquilo que for.
.
Sinta este nada observe-o
Pois ele mesmo levou-te
A rasgar a pele indelevel
Dos finos traços da noite.
.
Sinta o suor, o batuque,
E a agonia fremir,
Para que nada machuque
O sono que não quer vir.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
A BULA DE THOMAZ
.
Queria sentir outro sentir
Ou a idéia que me fosse
muito além dela existir
Ou daquilo que tornou-se
.
E neste eterno sem sentido
Somente algo se ressalta
É o dualismo pretendido
Onde tudo me faz falta
.
Assim mesmo ainda queria
O olhar-me face a face
Pra entender o que eu seria
Quando tudo me faltasse.
.
Queria sentir outro sentir
Ou a idéia que me fosse
muito além dela existir
Ou daquilo que tornou-se
.
E neste eterno sem sentido
Somente algo se ressalta
É o dualismo pretendido
Onde tudo me faz falta
.
Assim mesmo ainda queria
O olhar-me face a face
Pra entender o que eu seria
Quando tudo me faltasse.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
MONODIÁLOGO
.
Às vezes penso, sei lá,
Em ser outro, de repente,
Tão igual ao que sou já
E assim mesmo diferente.
.
E nesta mesma diferença
De eu ser o que já sou,
Serei nele o que ele pensa
E não o modo que pensou.
.
Talvez assim dessemelhante
Contraditório, louco, enfim,
Irei crer-me o bastante
Pra ser outro mesmo assim.
.
Às vezes penso, sei lá,
Em ser outro, de repente,
Tão igual ao que sou já
E assim mesmo diferente.
.
E nesta mesma diferença
De eu ser o que já sou,
Serei nele o que ele pensa
E não o modo que pensou.
.
Talvez assim dessemelhante
Contraditório, louco, enfim,
Irei crer-me o bastante
Pra ser outro mesmo assim.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
21 de fev. de 2011
E ESTE POEMA
21 de fev. de 2011
.
...e este poema é teu também
Posto que agora que o lês
Concebe formas que ele tem
E até te esqueces quem o fez.
.
O vês tão teu e assim o é
Dele só tenho a autoria;
Um mar revolto sem maré
Que fez de um risco poesia.
.
Mas não foi feito para ti
Nem para quem o possa ler
Pois eu apenas o escrevi
Porque não pude me conter.
.
FTO
...e este poema é teu também
Posto que agora que o lês
Concebe formas que ele tem
E até te esqueces quem o fez.
.
O vês tão teu e assim o é
Dele só tenho a autoria;
Um mar revolto sem maré
Que fez de um risco poesia.
.
Mas não foi feito para ti
Nem para quem o possa ler
Pois eu apenas o escrevi
Porque não pude me conter.
.
FTO
DA FORJA AO VENTRE
.
Quem me inventou talvez soubesse
Só não me disse que sabia
Que algo em mim sempre anoitece
Pelas manhãs, a cada dia.
.
Não quis dizer-me ou se esqueceu
Porque perdido noutro afã
Fez tudo em mim não ser tão meu
E fez as noites da manhã.
.
E porque o fez não vou saber
Talvez, por certo, neste dia
Não tinha como me dizer
O que ele mesmo não sabia.
.
FTO
O AMETISTA DE MAGDALENA
.
É somente uma vela com certeza,
Uma vela apenas fria e vaga,
Não foi por mão alguma acesa
Mas hoje, enfim, ela se apaga.
.
É apenas uma vela já sem brio,
Um corpo morto que derrama
Na pele negra do pavio
A derradeira voz da chama.
.
É apenas isso, e nunca mais,
Repetirei o que foi dela,
Pois os motivos são banais
Na existência de uma vela.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
É somente uma vela com certeza,
Uma vela apenas fria e vaga,
Não foi por mão alguma acesa
Mas hoje, enfim, ela se apaga.
.
É apenas uma vela já sem brio,
Um corpo morto que derrama
Na pele negra do pavio
A derradeira voz da chama.
.
É apenas isso, e nunca mais,
Repetirei o que foi dela,
Pois os motivos são banais
Na existência de uma vela.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
QUADRATURA
.
Os meus poemas são de barro,
De uma argila transparente;
Ornamentados como um jarro
Que reterá a água quente.
.
É um vasilhame que destila,
Em gotas brancas de cilício,
As velhas telhas de argila
Pra cumeeira do edifício.
Assim construo minhas frases
Talhando o gosto rarefeito,
De que os poemas são capazes
De serem feitos de outro jeito.
.
FTO
Os meus poemas são de barro,
De uma argila transparente;
Ornamentados como um jarro
Que reterá a água quente.
.
É um vasilhame que destila,
Em gotas brancas de cilício,
As velhas telhas de argila
Pra cumeeira do edifício.
Assim construo minhas frases
Talhando o gosto rarefeito,
De que os poemas são capazes
De serem feitos de outro jeito.
.
FTO
.
INEXPRESSÃO
.
Minha janela é como um olho
Que deixa não transparecer
Nos pregos velhos do ferrolho
Que ela consegue a tudo ver
.
E na cancela que desdobra
Um vulto magro se congela
De uma imagem que ainda sobra
Dela me ver olhando ela.
.
São dobradiças que o vento
A todo tempo faz lembrar
Que o instante é movimento
E esta janela é meu olhar.
.
FTO
Minha janela é como um olho
Que deixa não transparecer
Nos pregos velhos do ferrolho
Que ela consegue a tudo ver
.
E na cancela que desdobra
Um vulto magro se congela
De uma imagem que ainda sobra
Dela me ver olhando ela.
.
São dobradiças que o vento
A todo tempo faz lembrar
Que o instante é movimento
E esta janela é meu olhar.
.
FTO
.
AS REENTRÂNCIAS DA FACE
.
Nenhum silêncio se basta
Nas horas do não dizer,
Pois o não dito se gasta,
Na busca de se manter
.
Assim as velhas respostas
Das coisas que procurei
Se interagem, opostas
A perguntas que já não sei.
.
Eu estive errado, confesso,
E o meu silêncio dirá
Numa palavra, inespresso
Porque ninguém ouvirá.
Nenhum silêncio se basta
Nas horas do não dizer,
Pois o não dito se gasta,
Na busca de se manter
.
Assim as velhas respostas
Das coisas que procurei
Se interagem, opostas
A perguntas que já não sei.
.
Eu estive errado, confesso,
E o meu silêncio dirá
Numa palavra, inespresso
Porque ninguém ouvirá.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
OS DIAS DE INVERNO
.
Vou recomeçar a minha vida
Por um momento não exato
De uma memória esquecida;
Por um bilhete e um sapato.
.
Saber de nada me estranha,
É como alguém sem endereço;
Neve descalça na montanha
E um bilhete sem começo.
.
Saber de tudo, no entanto,
É bem maior que estranheza;
Sapato velho em um canto,
Nenhum bilhete sobre mesa.
.
Vou recomeçar a minha vida
Por um momento não exato
De uma memória esquecida;
Por um bilhete e um sapato.
.
Saber de nada me estranha,
É como alguém sem endereço;
Neve descalça na montanha
E um bilhete sem começo.
.
Saber de tudo, no entanto,
É bem maior que estranheza;
Sapato velho em um canto,
Nenhum bilhete sobre mesa.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
O ADEUS DOS IMPOSSÍVEIS
.
Os pensamentos de cristais
Às vezes perdem-se no vento;
Seguem pra onde não são mais
O que os fez ser pensamento.
.
E o vento os leva, rodopia,
Numa ciranda interminável
Feita de cor e poesia,
De um sentimento imutável.
.
E na ignorada voz suprema,
Desta canção jamais igual,
Ouve-se, ao vento, um poema,
De um pensamento de cristal.
.
Os pensamentos de cristais
Às vezes perdem-se no vento;
Seguem pra onde não são mais
O que os fez ser pensamento.
.
E o vento os leva, rodopia,
Numa ciranda interminável
Feita de cor e poesia,
De um sentimento imutável.
.
E na ignorada voz suprema,
Desta canção jamais igual,
Ouve-se, ao vento, um poema,
De um pensamento de cristal.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
20 de fev. de 2011
E AINDA UM QUÊ
20 de fev. de 2011
.
Num sentido amplo sei,
Que uma coisa diminuta,
Obedece à mesma lei,
Que faz a forma absoluta.
.
É numa tola redundância,
É como o frasco, nada além,
Que resguarda a fragrância,
Do perfume que não tem.
.
E assim tornado obtuso
Diluído em toda parte,
Tudo faz-se tão confuso
E por isso vira arte.
Que uma coisa diminuta,
Obedece à mesma lei,
Que faz a forma absoluta.
.
É numa tola redundância,
É como o frasco, nada além,
Que resguarda a fragrância,
Do perfume que não tem.
.
E assim tornado obtuso
Diluído em toda parte,
Tudo faz-se tão confuso
E por isso vira arte.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
LANTEJOULAS
.
Cada poesia é uma gota,
De chuva torrencial,
Que umedece a telha rota,
E nunca é especial.
.
Pois naquilo que escrevo,
Todo ponto se assemelha
À umidade em relevo,
Que consome cada telha.
.
E a chuva quando para,
No telhado umedecido,
Tem então a mesma cara,
Daquilo que foi escrito.
.
De chuva torrencial,
Que umedece a telha rota,
E nunca é especial.
.
Pois naquilo que escrevo,
Todo ponto se assemelha
À umidade em relevo,
Que consome cada telha.
.
E a chuva quando para,
No telhado umedecido,
Tem então a mesma cara,
Daquilo que foi escrito.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
TROPEL (DESAFORISMO)
.
É a tristeza calada,
Na voz do vento que ouço,
Como angústia cravada,
No fundo do calabouço.
.
Ouvi-la já não me basta,
E o poço fundo somente,
Profundamente se afasta,
E a voz me fica ausente.
.
Se o vento pudesse ouvir,
Eu lhe diria assim...
Pra nunca mais repetir,
As coisas ditas de mim.
Na voz do vento que ouço,
Como angústia cravada,
No fundo do calabouço.
.
Ouvi-la já não me basta,
E o poço fundo somente,
Profundamente se afasta,
E a voz me fica ausente.
.
Se o vento pudesse ouvir,
Eu lhe diria assim...
Pra nunca mais repetir,
As coisas ditas de mim.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
TECIDO RUDIMENTAR
.
A pintura imprecisa
Se inverte na medida
Do olhar quando divisa
Sua imagem refletida
.
Um do outro pouco sabe
Chego mesmo a pensar
Que a tela já não cabe
Na moldura do olhar.
.
E embora eu nada veja
Numa tola indisciplina
Sei que a imagem só deseja
Fazer parte da retina.
Se inverte na medida
Do olhar quando divisa
Sua imagem refletida
.
Um do outro pouco sabe
Chego mesmo a pensar
Que a tela já não cabe
Na moldura do olhar.
.
E embora eu nada veja
Numa tola indisciplina
Sei que a imagem só deseja
Fazer parte da retina.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
ART NOUVEAU
.
A vida é como uma tela
Pano branco, sem pintura,
Não se pode pintar nela,
Pois a tinta não segura.
.
Falta cor, falta pincel,
Falta mesmo é um pintor,
Que desenhe sem papel,
E seja ele mesmo a cor.
.
E que assim se muiltiplique,
Nas cores que ele sinta,
Pra que a tela branca fique,
Toda pintada sem tinta.
Pano branco, sem pintura,
Não se pode pintar nela,
Pois a tinta não segura.
.
Falta cor, falta pincel,
Falta mesmo é um pintor,
Que desenhe sem papel,
E seja ele mesmo a cor.
.
E que assim se muiltiplique,
Nas cores que ele sinta,
Pra que a tela branca fique,
Toda pintada sem tinta.
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Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
ID
.
Eu sou a somatória apenas,
De uma conta arredondada,
Em resultantes tão pequenas,
Que sequer foi anotada.
.
A irretratável ambivalência
Cujos lados tão iguais,
Fez avanços que à ciencia,
Se tornariam banais.
.
E nesta súmula duvidosa
Cuja íntegra não lerei,
Quiçá reste a coisa honrosa
De saber que nada sei.
De uma conta arredondada,
Em resultantes tão pequenas,
Que sequer foi anotada.
.
A irretratável ambivalência
Cujos lados tão iguais,
Fez avanços que à ciencia,
Se tornariam banais.
.
E nesta súmula duvidosa
Cuja íntegra não lerei,
Quiçá reste a coisa honrosa
De saber que nada sei.
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Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
8 de fev. de 2011
CLARIDADE
8 de fev. de 2011
.
Hoje entendi o que não vejo
A rara e dúbia intensidade
Entre o amor e o desejo
E nenhum deles na verdade.
.
O teu silencio me rodeia
E o som diáfano do dia
É um estopim que incendeia
Tudo que a vida silencia.
.
Te digo coisas mas esqueço
De te dizer principalmente
Que descortinas o começo
De um caminho à minha frente.
.
FTO
Hoje entendi o que não vejo
A rara e dúbia intensidade
Entre o amor e o desejo
E nenhum deles na verdade.
.
O teu silencio me rodeia
E o som diáfano do dia
É um estopim que incendeia
Tudo que a vida silencia.
.
Te digo coisas mas esqueço
De te dizer principalmente
Que descortinas o começo
De um caminho à minha frente.
.
FTO
BERGANTIM DE PORCELANA E COBRE
O amargo doce de um beijo
Tem um aroma de flor,
Brotada em cada desejo,
Cuja beleza é não supor.
.
Tudo é segredo... uma ave,
No improviso de um passo,
Dança um ballet, tão suave,
No palco imenso do espaço.
.
A mão que acena num verso,
Onde não há o que dizer,
Faz doce amargo o universo
Pra cada beijo nascer.
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
2 de fev. de 2011
LA INMACULADA
2 de fev. de 2011
.
Bendita seja a alma pura
Que mais de si nada deseja
Que resurgir na noite escura
E do torpor em que se veja
.
E do emaranhado desalento
Que leva o mundo à aflição
Buscar no sol do movimento
A derradeira redenção.
.
Bendita seja quem teceu
No descampado das estrelas
Um outro rumo a quem perdeu
Para achar-se quando vê-las.
.
30 de jan. de 2011
ENTRESORTE
30 de jan. de 2011
.
Veio um vento na estrada
E levou o que eu tinha
Mas enfim não tinha nada
Só o vento que não vinha
.
Desrumei-me no intento
De um jeito entrelaçado
À poeira que era vento,
A um rumo que era errado
.
Pois a sorte nunca quis
Encarar de outra maneira
O caminho que eu fiz
Neste vento sem poeira
.
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
19 de jan. de 2011
DE AGULHAS E LINHAS
19 de jan. de 2011
.
Uma mulher formou-me um dia
(como se o houvera inventado)
De carreteis e linharia
E um pano branco costurado.
.
E então assim ela perfez,
Em seus trejeitos maternais,
No denso véu da gravidez,
As minhas formas naturais.
.
Mas vendo agora a estrutura
Eu compreendo que estava
Não nos trejeitos da costura
Mas na mulher que costurava.
.
FTO
10 de jan. de 2011
SEM IMPORTÂNCIA
10 de jan. de 2011
.
Estou errado (e sempre eu
Que finjo coisas que não liga)
Não percebi que entardeceu
Em qualquer rumo que eu siga.
.
E embora então me desaponte
Ainda busco a travessia
Que vai levar ao horizonte
Do recomeço em outro dia.
.
Mas estou farto desta luta
Desapontado com esta guerra
Que faz daquele que recruta
Mais uma cruz no vão da terra.
.
FTO
Estou errado (e sempre eu
Que finjo coisas que não liga)
Não percebi que entardeceu
Em qualquer rumo que eu siga.
.
E embora então me desaponte
Ainda busco a travessia
Que vai levar ao horizonte
Do recomeço em outro dia.
.
Mas estou farto desta luta
Desapontado com esta guerra
Que faz daquele que recruta
Mais uma cruz no vão da terra.
.
FTO
9 de jan. de 2011
AO NÃO PROSAICO
9 de jan. de 2011
.
Meu proselitismo se contradiz
Em minha eterna timidez;
Ela me lembra o que não fiz
E ele o nada que já fez.
.
Então não sei se é possível
À coragem desgastada e vã
Fazer do não inteligível
O meu começo de manhã.
.
Ventos do sul parecem brisas
Antigos sopros de estação,
Falam de coisas imprecisas
Do que farei e fiz em vão.
.
FTO
8 de jan. de 2011
CAEM ORVALHOS DE CIMENTO
Caem orvalhos de cimento
Por sob o véu do entardecer
No frio olhar do firmamento
Que mais parece nada ver.
.
Eis o sinal da travessia
Por onde a vida irá passar
Quando chegar o fim do dia
E ouvir-se a noite cavalgar.
.
E nesta imensa profusão
Que faz o mundo existir
Penso nas tardes de verão
E um por de sol pra me vestir.
.
FTO
RIBEIRINHO DAS VOLTAS
.
O rio rumina e a vazante
Faz da corrente rompida
Um objeto cortante
Que tira a água da vida.
.
E num caudal que flameja
O veio grita, derrama
E, na foz inundada, despeja
A viscosidade da lama.
.
E o ribeirão permanece
Ouvindo o rio dizer:
Palavra ouvida se esquece
Falar pra dentro é saber.
.
FTO
TRÊS QUINTOS E MEIO
.
As vagas horas de descanso
Caminham tão devagar
Ao ralo golpe do remanso
Do barulho à beira mar
.
O sol me evita e eu busco
Na imensa noite que sou
O halo opaco e ofusco
Que nem o sol não evitou.
.
Mas eu antevejo, me creia,
Que repousei minha pressa
Em rastros fendidos na areia
Da solidão não expressa.
.
FTO
FLERTE CIGANO
.
O seu amor me acusou
De um jeito tão normal
De alguém que nunca amou,
Pelo menos não igual.
.
E nessa coisa engraçada
Que a gente não quer ver
Por amar de forma errada
Ou fugindo, sem querer.
.
Mas a culpa se apressa
E a gente compreende
Só não sabe o que confessa
E não diz o que pretende.
.
FTO
A PONTE RECLINADA
.
O espelho é um fragmento
Que fugiu à explicação,
Diluiu-se em pensamento
Pois perdeu noutra razão.
.
O que mostra da imagem
Não é o mesmo que ela
Mas somente uma linguagem
que no vidro se congela.
.
E nas formas que ele insiste
Sei que ou o refletir
De uma cópia que inexiste
Pra que eu possa existir.
.
FTO
6 de jan. de 2011
VÃ RAZÃO
6 de jan. de 2011
.
Se o meu modo de entender
Tivesse a mesma estrutura
Que faz a noite escurecer
Sem obrigá-la a ser escura.
.
Teria eu a mesma crença
Que tem a planta ao crescer
Não sendo nada do que pensa
E nem motivo para o crer.
.
Mas meus sentidos acreditam
Que esta crença me atrapalha
Fazem-me ser o que eles fitam
E mesmo assim tudo me falha.
.
FTO
VELA ARRIADA NO EPICENTRO
.
Estar perdido é não buscar
alguma forma de encontrar-se
É ter em si nenhum lugar
Ser pouco além de um disfarce.
.
Nada seguir, ser rumo incerto
Vela apagada em noite escura
É não se ver no que é perto
Pra insistir noutra procura.
.
Estar perdido é um segredo,
Vela arriada no epicentro,
É naufragar-se pelo medo
De insistir no mar-a-dentro.
.
FTO
5 de jan. de 2011
ESTIGMA
5 de jan. de 2011
.
Eu me refiz de um rabisco
De uma idéia que não tenho
Feita de tiras, de um risco
Na tosca forma de um desenho.
.
Eu me refiz de um absurdo
De tudo aquilo que quis ser
Tornei-me cego, fiz-me surdo
E assim eu quis me refazer.
.
Agora vejo meus retraços
Por onde nada jorra ou flui
Estou sentado em meus braços
Olhando a coisa que não fui.
.
FTO
Eu me refiz de um rabisco
De uma idéia que não tenho
Feita de tiras, de um risco
Na tosca forma de um desenho.
.
Eu me refiz de um absurdo
De tudo aquilo que quis ser
Tornei-me cego, fiz-me surdo
E assim eu quis me refazer.
.
Agora vejo meus retraços
Por onde nada jorra ou flui
Estou sentado em meus braços
Olhando a coisa que não fui.
.
FTO
AS FOLHAS CAEM
.
As folhas caem no outono...
Vejo a folha que caiu,
Como alguém que tinha sono,
Ou simplesmente dormiu।
.
Pois no infindável remanso,
Pois no infindável remanso,
De um tempo não medido,
O outono foi só o balanço,
Para a folha ter dormido।
.
E nesta eterna gangorra,
E nesta eterna gangorra,
Que brinca de vai e vem,
É provável que ela morra,
E o outono também..
Francisco e Ana Moura
Trazido de O.T.Velho (Conservatório Íntimo)
SÃO SÓ RESPINGOS...
São só respingos, se aquieta...
É só o tempo de esquecer
Na noite longa, incompleta
Que nada há para entender.
.
É só uma sombra escurecida
E não a própria escuridão
Que demarcou-nos toda vida
Que fez de nós demarcação.
.
São só respingos... então esquece...
A noite é como uma viúva
Que se perdeu na própria prece
Por isso chora como a chuva.
.
FTO
É só o tempo de esquecer
Na noite longa, incompleta
Que nada há para entender.
.
É só uma sombra escurecida
E não a própria escuridão
Que demarcou-nos toda vida
Que fez de nós demarcação.
.
São só respingos... então esquece...
A noite é como uma viúva
Que se perdeu na própria prece
Por isso chora como a chuva.
.
FTO
ODE ELEGÍACA
.
Já não há nuvens sob o céu
Não há desterro, não há glória,
Somente um grito no papel,
Poeira branca e um véu
Na brasa acesa da memória.
.
E na planicie verde e vasta
Tudo tornou-se solidão,
Melancolia, linha gasta
E o negrume que se arrasta
Na imensa dor que os homens são.
.
Virei um dia aqui sentar-me,
Só para ver na cor do mar,
O horizonte desenhar-me
Num sobre-tom em que desarme
Minha vontade de chorar.
.
FTO
Já não há nuvens sob o céu
Não há desterro, não há glória,
Somente um grito no papel,
Poeira branca e um véu
Na brasa acesa da memória.
.
E na planicie verde e vasta
Tudo tornou-se solidão,
Melancolia, linha gasta
E o negrume que se arrasta
Na imensa dor que os homens são.
.
Virei um dia aqui sentar-me,
Só para ver na cor do mar,
O horizonte desenhar-me
Num sobre-tom em que desarme
Minha vontade de chorar.
.
FTO
ARTHUR
Era uma vez um dragão que se chamava,
Qualquer um nome que a gente imaginasse,
Estava em tudo e em tudo se ocultava
Não era nada, nada além de um disfarce.
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Era uma história de um livro que se lê
Só quando a gente é pequeno e desconhece
Que um menino é DRAGÃO porque o crê
E um DRAGÃO é menino que não cresce.
.
O tempo passa e tudo isso vira conto
Então dirão que fora apenas inventado
Nada acontece, tudo é ou nasce pronto,
Eu nada sei mas assim me foi contado.
.
Francisco e Ana Moura
Dezembro de 2010
RIACHO DOCE
.
As claras rondas do dia,
Dos dias que sempre são
A mais suprema elegia
Nas simetrias do chão
.
Dos frios raios de inverno
Da madrugada mais vã
Desnuda o leite materno
E acalenta a manhã.
.
Em cada flor um buque
Esculpe as formas do cacho
Ser doce é ser sem por que
Nas águas de um riacho.
.
No curto espaço da trilha
Cada manhã nos convida
A ser um ponto que brilha
Nas rondas de alguma vida.
.
E assim o sempre acontece
Em seu mistério profundo
No homem que amanhece
A cada aurora do mundo.
.
Francisco e Ana Moura
Dezembro de 2010
As claras rondas do dia,
Dos dias que sempre são
A mais suprema elegia
Nas simetrias do chão
.
Dos frios raios de inverno
Da madrugada mais vã
Desnuda o leite materno
E acalenta a manhã.
.
Em cada flor um buque
Esculpe as formas do cacho
Ser doce é ser sem por que
Nas águas de um riacho.
.
No curto espaço da trilha
Cada manhã nos convida
A ser um ponto que brilha
Nas rondas de alguma vida.
.
E assim o sempre acontece
Em seu mistério profundo
No homem que amanhece
A cada aurora do mundo.
.
Francisco e Ana Moura
Dezembro de 2010
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